terça-feira, 12 de janeiro de 2010

NOTAS SOBRE O QUE ME TOCA
(texto feito por Cristina Borges - para casa do LASEB/UFMG)

“Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca”. Clarice Lispector

Enquanto lia o texto “Notas sobre a experiência e o saber da experiência” de Jorge Larrosa[1], fiz relações inevitáveis com situações de meu cotidiano interessantes e reveladoras. Há algum tempo identifiquei e continuo identificando a presença excessiva de informações no mundo. Basta acessar a internet, ligar a televisão, caminhar pelas ruas e conversar com os amigos. Tropeçamos, hoje em dia, ao andarmos por aí, mais em todo o tipo de informação do que em folhas de árvores nas calçadas.
E ao falar de excesso de informações, acho necessário caracterizar melhor a informação. Segundo a Wikipédia, “Informação enquanto conceito carrega uma diversidade de significados, do uso cotidiano ao técnico” [2]. Há vários tipos de informação, mas no já referido texto de Larrosa senti que o tipo de informação que pretende controlar e manipular as pessoas para manter o sistema vigente é abordada com mais ênfase. E mais do que isso: o autor defende que estar informado não significa que o sujeito viveu experiências, ou seja, reter informações é diferente de ser tocado e modificado por algo, alguém. O texto traz algumas respostas a certos incômodos que já sinto há algum tempo tal como: “por que as pessoas têm tanta necessidade de assistir os telejornais diariamente”? Recentemente, meu avô, que confia excessivamente(e cegamente) nos meios de comunicação oficiais, ao me perguntar sobre certo acontecimento que foi muito divulgado pela mídia ficou bravo comigo quando disse desconhecer tal evento. Além de achar minha postura crítica frente ao mundo absurda, quase considerou imperdoável o fato de eu não acompanhar os jornais. Por mais ridícula que pareça tal situação,essa é apenas uma demonstração da intolerância do sistema para com tudo aquilo que, de uma forma ou de outra o contradiz, ameaça, revela.
Posso dizer com segurança que a arte me toca.Ao falar dela, falo de algo que alcança todos os meus sentidos,que me possui, que faz com que viva com quase absurda abundância. A arte tem me fornecido recursos preciosos para que, no mínimo,meus sentidos não sejam totalmente entorpecidos, condicionados,adestrados, adoecidos por certas mazelas contemporâneas. Sou portadora de uma vontade muito profunda de me relacionar com ela, vontade que ultrapassa certas questões como fama, prestígio, dinheiro e outros aspectos mais tradicionais quando falamos sobre arte. Ao pensar em suportes para desenho, por exemplo, gosto de mergulhar fundo e descobrir um sem número de possibilidades. E, nessas descobertas, acabo encontrando outros caminhos não apenas para o suporte, mas para o próprio desenho. Já desenhei algumas vezes, por exemplo, ao fazer caminhadas solitárias por estradas de terra no interior de Minas. Com pedaços de pau, ia, ao caminhar, deixando rastros no caminho além das pegadas. Fincava os tocos na estrada e caminhava. Sulcos do rasgo dos tocos no chão arenoso revelavam a presença de gestos, linhas, passagem e, mais do que isso, um desejo de mudar algo, de imprimir uma marca própria em um lugar e tempo. Tocar, rasgar o chão e ser tocada, rasgada, transformada e revelada.

[1] LARROSA BONDIA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira de Educação. Jan-abr, 2002
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Informa%C3%A7%C3%A3o