Concepções contemporâneas de arte apresentam diluições de fronteiras entre dança, desenho, pintura e outras linguagens. Portanto, é possível atualmente ver e produzir desenho em outros suportes e de formas mais ousadas e, de certa maneira, estranhas[1]. Muito alimentada por novas maneiras de ver e fazer e acompanhando com curiosidade vários movimentos das crianças ao desenhar, além de estudar sobre a infância e o desenho dos pequenos sempre que possível, pensei em promover e também perceber encontros de desenho na turma que respeitam e/ou valorizem a arte contemporânea e a criança pequena (principalmente, porque é a turma que está comigo este ano, a meninada de 3 anos).
Encontrei na sucatoteca da escola molhos de flor que parecem sempre vivas secas. Levei-as para a sala para que as crianças tivessem maior contato com elas. Logo quase todo o recinto estava povoado por aquelas linhas finas com pontas coloridas por minúsculas e simpáticas flores. Várias ações de tirar, pôr, jogar, acumular e brincar com aquele material revelaram a presença de fazeres de desenho no grupo. Tive, após algumas observações, a ideia de produzirmos trabalhos com maior permanência[2]:modelagens com os raminhos. Propus uma reunião em roda e cada criança participou, com um raminho de cada vez, da construção de um emaranhado ou o que denominei de desenho coletivo. Para formar um todo fixo uni, com pequenos pedaços de durex colorido, as pequenas flores que as crianças juntavam.
Nos encontros, a delicadeza dos movimentos, a grande concentração e o profundo interesse do grupo estiveram fortemente presentes. Ao escolherem os locais para a colocação dos ramos, as crianças prendiam-nos nos dedinhos com explícito cuidado e certa reverência, percebendo a fragilidade dos cabos de flor e zelando para que não quebrassem como se fosse um material bastante precioso. Quando chegava a minha vez de unir com a fita, também tinha que o fazer com grande delicadeza e certa destreza para não alterar o modo como a criança havia disposto o cabinho. Ao fazer isso, até o tom de minha voz baixava: enquanto colocava a fita com exigida delicadeza corporal, sussurrava e era acompanhada em meu quase silêncio por quase todas as crianças que, atentas, esperavam o término do processo.
[1] Por não serem tradicionais e porque unem linguagens num mesmo tempo ou produto, muitas obras de arte de nosso tempo não são compreendidas e/ou aceitas. Inúmeras pessoas ainda confiam em e não abandonam concepções conservadoras a respeito da arte. Acham, por exemplo, que pintura é apenas produzida em telas com tinta e que desenho é um fazer que restringe-se quase que somente a mãos, papéis e lápis. (NOTA MINHA)
[2] Uma permanência que não fosse a da fotografia, forma de registro que, à sua maneira, perpetua o momento de encontro das crianças e as flores. (NOTA MINHA)
referência: BORDONI, Theresa. Descoberta de um Universo: A Evolução do Desenho Infantil. Disponível em: http://www.profala.com/arteducesp62.htm. Consulta: 24 de abril de 2011
que bom que você voltou aqui! e, com apresentações das propostas, ações e atividades tão belas e aprofundadas.
ResponderExcluirbrigada pelo carinho! BJS
ResponderExcluircris
Cristina ,
ResponderExcluiro texto tb ficou muito bom! Apresentou seu olhar cuidadoso e sensível tanto para a pesquisa , como para as crianças.
Obrigada
Vera
Verinha,
ResponderExcluirQue bom vc ter passado por aqui! Bjs!