sábado, 16 de maio de 2009

Arte-educação nas UMEIs. Apontando alguns problemas.

          Sou desenhista por formação e amo a arte. Minha passagem pela Belas-Artes, apesar de rápida e estranha, foi fundamental para a afirmação de minha identidade. Na educação infantil pública de BH, pouquíssimas pessoas têm essa formação. A maioria veio da Pedagogia. E essa maioria tem um estranhamento intenso por arte. São até criativos, inventivos, bolam coisas muito bacanas com a meninada - muitas práticas, inclusive, esbarram nas práticas artísticas. E, ainda assim, ao falarem de "arte", demonstram pouco ou quase nenhum conhecimento da coisa. 
  É muito comum, ao ser abordada na escola, as pessoas proferirem a seguinte pergunta:"Que arte você está fazendo aí?" Qualquer coisa, até a mais banal, se está nas minhas mãos, vira alguma coisa artística. Percebo, com certa tristeza e preocupação, como essas pessoas podem ser ludibriadas facilmente. Isso justifica o deslumbramento exagerado que alguns educadores tiveram por trabalhos feitos sob minha coordenação nesses cinco anos de atividades - alguns deles eram simples pesquisas, e algumas ruins, tímidas. Mas porque eu sou "a professora de artes", "a que entende do assunto", imunizo qualquer suspeita dos que não têm as ferramentas do discernimento. E isso é muito sério. Sem conhecimento, perdemos a posssibilidade da dúvida.
Dessa forma, sou a favor de uma formação decente em arte desde a educação infantil. E a formação do educador, nas escolas de pedagogia, em arte, precisa melhorar. Sei que muita coisa mudou, reconheço o esforço e a bravura de pessoas como Ana Mae Barbosa, Lúcia G. Pimentel, Fayga Ostrower e os arte-educadores, artistas e pesquisadores que, no anonimato, desdobram-se por uma educação transformadora. Porém, ainda fico assombrada ao ver o pessoal da pedagogia tão desinformado quando o assunto é esse. Não posso deixar de fora também as pessoas dos serviços gerais. São nossos colegas e também desconhecem o assunto. Oferecer formações para eles é essencial. Infelizmente, muitas escolas discriminam as pessoas que são, na realidade, nossos colegas, companheiros. Fico feliz por hoje trabalhar numa UMEI onde o cuidado para que isso não aconteça é muito grande.    
Este blog é uma tentativa de informar, formar, trocar, construir, desconstruir. De qualquer forma, não tenho a intenção de sonegar conhecimento. Não compreendo porque há quem o faça. Na verdade, até entendo de certa maneira. Conhecimento liberta e sei que a liberdade não é desejada por quem está no controle. Até na possibilidade mínima de enganar há obtenção de poder. Por princípio, devo combater isso. Portanto, estou aberta ao diálogo, e sobretudo à dúvida. Não estou acima de qualquer suspeita.



8 comentários:

  1. Nossa! Impossível não comentar esta postagem. De mãos atadas, sem formação adequada nas faculdades e durante a formação em serviço na PBH, o q fazer?
    Podemos pensar algo pelo sindicato, vc topa?
    Abraços,
    Thaís.

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  2. Claro que topo, acho que a gente deve fazer alguma coisa mesmo pq a coisa é séria! Bjs!

    Vc melhorou???

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  3. Oi Cristina! Após a leitura do seu "desabafo", se posso chamar assim, fico pensando qual é, enquanto educadoras infantis, nossa real responsabilidade em educar. Sinto um peso muito grande sobre os ombros, quando penso que estão em minhas mãos crianças sujeitas aos meus sucessos e fracassos. Meu sentimento sincero quando paro para refletir, é de profunda incapacidade, em imaginar que todos esperam de nós educadoras, um conhecimento amplo sobre todas as áreas. A Professora precisa ser psicóloga, música, dançarina, artista plástica, terapeuta... tendo conhecimento em todas as áreas para que possa ajudar seu aluno a crescer de forma global. Sei que nossa responsabilidade é ter conhecimento básico em assuntos que nos propomos a ensinar mas até onde devemos ir? Será que não estão esperando de nós um conhecimento infinito? Bem, ouvi até dizer certa vez, que a educação era coisa muito séria pra estar na mãos de professores. Só te falo que, isso me doeu muito, e achei muita injustiça por parte da pessoa. Olha, não veja esse meu "desabafo" como uma resposta ao que você, enquanto artista plástica, disse. Apenas também senti vontade de dizer os meus sentimentos em relação a situações como essa que vem me acompanhando ao longo de minha carreira. Concordo com vc quando diz que devemos saber mais sobre artes, e sei sua responsabilidade e compromisso em uma formação mais ampla. Sei que aprenderei muito com vc, e tenho sorte em poder estar perto de ti todos os dias. Beijos!

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  4. Oi, Cristina!

    Vc pode escrever uma proposta pequena com algumas temáticas q poderíamos estudar no sindicato sobre arte na ed infantil? Acho q podíamos fazer 1 encontro por mês debatendo textos e experiências. O q vc acha? Vc topa?

    Na segunda-feira apresento a proposta para a diretoria, se aprovada podemos conseguir material por lá. Se não passar, solicito empréstimo do espaço e fazemos pelo travessia (material necessário a gente faz uma vaquinha). Dependendo do andamento, chamamos professoras das faculdades em alguns encontros (tipo Rosvita). Mas queria isso para segunda, pois na terça tem reunião da ed infantil e já iniciamos as inscrições. Podemos até mandar no malote q sai na segunda-feira mesmo para as escolas.

    Acho q a Verinha tb é uma boa. Trazemos ela para o sindicato (será possível?) e ela tem discussões legais neste sentido.

    Aguardo retorno empolgada!
    Abraços,
    Thaís.

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  5. Querida Nina,

    Acho impossível, ainda mais no momento de muita fragilidade vivido por nós, educadores, termos amplo conhecimento de vários assuntos. Estou à disposição para ajudar no que puder. Falta tanta coisa, principalmente tempo para um investimento legal. Lembro-me de qdo o pessoal da Reggio Emilia veio aqui... discordaram dos educadores fazerem dupla e até tripla jornada. Não podemos carregar uma culpa que não nos pertence! Vc tem razão - espera-se muito do educador qdo a contrapartida é mínima! Não fique assim! Achei muito pertinente sua colocação. E, qdo 'desabafo', não responsabilizo o educador. Falo, antes de tudo, de engrenagens de um sistema que não tem interesse real de 'possuir' ou fazer acontecer uma educação boa, transformadora, libertadora... seria dar um tiro no próprio pé! Obrigada por seu parecer, é válido e muito razoável. Não podemos perder o que vc disse de vista. Bjs!!

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  6. Thata,

    Só hj li seu comentário!! No sábado, após postar os novos textos e te responder, saí! Fui p Santa Luzia e fiquei lá até ontem mais tarde. Qdo cheguei, não liguei o computador. Estou vendo sua mensagem só hj... Posso amanhã, no encontro com o coletivo da educação infantil, levar uma proposta. acho o convite muito interessante. é uma saída bacana p fazer uma discussão rica e necessária. Farei agora algo e apresento amanhã. Pode ser? Bjs!!

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  7. Thata,
    Te mandei um e-mail hj ainda com uma proposta! BJs! Te vejo amanhã na reunião do coletivo!

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  8. gostei do texto, mais considero que definir arte é algo mais complexo que engloba opiniões divergentes para um mesmo tema.

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